Desmame precoce pode causar predisposição a doenças gástricas - Cabeça de Criança

Desmame precoce pode causar predisposição a doenças gástricas

Desmame precoce pode causar predisposição a doenças gástricas



Desmame precoce pode causar predisposição a doenças gástricas
Imagem de Manojiit Tamen por Pixabay

Um estudo feito por cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP revelou que o desmame precoce pode causar predisposição a doenças gástricas. A pesquisa realizada em animais, coordenada pela professora Patrícia Gama, do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento, e divulgada no Jornal da USP, constatou que deixar de amamentar mais cedo que o indicado pode acarretar mudanças permanentes no estômago.

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Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores compararam as células dos estômagos de dois grupos de ratos – um que havia mamado leite materno normalmente e outro que teve o alimento substituído aos 15 dias de vida (equivalente a menos de quatro meses em humanos). Normalmente, o desmame ocorre entre o 18º e 22º dia de vida do animal. Os cientistas analisaram as células que produzem muco para proteger a superfície do estômago, as responsáveis pela produção de ácido, além das encarregadas pela pepsina, uma enzima importante para a digestão de proteínas.

O artigo indica que os genes que regulam a diferenciação das células do estômago têm a expressão aumentada quando ocorre o desmame. “É o corpo preparando todos os seus genes para um organismo que passará a ter uma alimentação normal”, explica Patrícia Gama. Mas os pesquisadores observaram que a expressão dos genes ATP4B, responsáveis pela produção de ácido no estômago, continuou alta nos adultos do grupo de desmame precoce. “Observamos também o produto desse gene: no 18º dia, a proteína também aumentou, mas no 60º dia isso não acontece mais. Ou seja, já existe algum mecanismo entre o gene e a proteína que faz com que a proteína se module.”

Segundo a especialista, essa alteração pode levar o animal a produzir mais ácido gástrico do que o normal diante de uma situação estressante ou de uma infecção no estômago, provocando ulcerações. “Nós trabalhamos com esse modelo há muito tempo e nunca encontramos ulcerações. No entanto, em termos de ambiente, se esse animal for exposto a estresse ou a uma infecção como pela bactéria H. pylori, principal causadora das úlceras, é possível que ele desenvolva uma resposta exacerbada”, diz.

O estudo também constatou uma alteração no gene relacionado à geração de muco. A produção desse gene foi menor entre os animais que tiveram desmame precoce, podendo resultar em uma menor proteção da parede do estômago. Além disso, houve um aumento no número de células produtoras de pepsina nos diferentes ciclos da vida. “O grande problema dessas células é que, em uma situação de lesão, elas podem dar origem a uma metaplasia, ou seja, um tumor. A nossa hipótese é que os animais que passaram pelo desmame precoce sejam mais suscetíveis a esse quadro.”

Os cientistas da USP pretendem aprofundar as descobertas da pesquisa investigando a resposta de animais desmamados precocemente a uma lesão na mucosa gástrica. A pesquisadora Patrícia Gama destaca também a importância da amamentação, recomendada por no mínimo seis meses, podendo se estender até os dois anos de idade da criança. “A discussão é muito voltada para a função imunológica, mas na verdade o leite é a fonte de todas as moléculas que o bebê precisa para crescer bem e desempenhar várias outras funções do organismo”, concluiu.

Fonte: Jornal da USP, por Ângela Trabbold/Acadêmica Agência de Comunicação

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